Pulsos

Postarei hoje uma das poesias que mais gosto, e explico por quê. "Pulsos" é uma das minhas raras poesias que já nascem prontas, foi escrita uma vez e não foi modificada, e isso é extremamente raro. Uma consequência disso é sua extrema verborragia. Embora não me considere um cara verborrágico, acho tal característica deveras apropriada a uma poesia rompante, como é "Pulsos". Adiciono o fato de que ela parece adquirir ritmo próprio em sua leitura, e de que ela é essencialmente ambígua. Nada melhor do que um pouco de ambiguidade para deixar a vida um pouco mais incerta, não é mesmo? Para degustação:

Pulsos

Sinto um pulso:
intenso se expande
meu peito, despede
a pele e a alma

Mas imóvel percebo,
contente e calado,
que, completo o alarde,
meu peito se acalma.

Sinto um cheiro vazio:
nasce do ar e
ratifica escuras
manchas de suor.

Logo um pulso maior
sozinho retrai
a pele e se vai
a alma para fora.

Ah! o corpo não quer,
não pode viver,
sem alma e sem brilho
ser só pele e forma!

Outro pulso aflora
e traz consigo a alma,
a banhar-se no corpo,
uma vez mais fugaz.

Entretanto o coração
quer pulsos pujantes,
que despertem o fluxo
e tragam calor,

desperta pois a febre
que dá vida ao temor
de que os pulsos extinguam
boca e expressão.

Logo uma outra corrente
de pulsos inaptos
tenta arruinar anos
de contínuo caminhar:

meus pulsos são vida
que de dia desejam
o que de noite ensejam:
para teu corpo escapar.

Comentários

  1. Ela caminha mesmo sozinha.

    Mas é díficil de ler.
    Ou melhor, de entender.

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  2. Que bom que achou difícil, Emílio! Isso quer dizer que agora você vai virar um leitor teletubbie - (!?) - e ler de novo, de novo, de novo...? Peço-te um favor: se não encontrar sentido algum, me fala que eu te conto o meu! Abraço, e obrigado!

    P.S. A minha capacidade de contar piadas só piora com o tempo, e a este ponto de minha vida, acho que já não tem mais solução. Sinto muito.

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