Eufemismo de um sonho a dois

Gostei demais dessa poesia. Acho que são palavras sinceras, sonoras e incorruptíveis. Espero que gostem.

Eufemismo de um sonho a dois

Os frutos que desejamos
Serão ainda mais saborosos
Que um quê de peculiaridade.
Perfume sim, exalarão,
Mas o cheiro trará saudade
De algo que nunca existiu.

Em todos os alvores
Dos dias mais ensolarados,
Sei que tu me esperas.
Por isso digo palavras estéreis
E ponho-me a velejar
Na tua direção.

Mas não tenho vela, nem barcos,
Nem remos imateriais.
Acarinho um profundo anelo
De enfim te conhecer.
Quero descobrir, sobretudo
O amanhecer das tuas carícias.

Relembrando teus olhos,
Há pouco peguei tudo
Que era de nós dois
E espalhei por um mar de afeto,
Construído do concreto
Sonho de me encantar.

Mas e se eu te fizer velejar,
Desfrutar das maravilhas
Que a realidade oferece?
Conseguirei segurar tua mão?
Será que os longínquos dedos
Formarão algum entrelace?

Por irremediável ação
Das leis que regulam nossas conversas,
Surgirá o inevitável: “Por quê?”
Se eu conjuguei todos os tempos do verbo querer
(inclusive os que eu não conhecia)
Em frases que a você se destinavam...

Entretanto, nesse instante,
Nesse pulsar enlouquecido
Que pressionam os lábios,
Com vicissitude e ardor,
Caimos a nos encontrar
Mas não nos realizamos.

Embora nós dois pareçamos gigantes,
Eu velejo por mares distantes
A deslumbrar teus graciosos vôos.
E não, não há voar a dois.
Há sinceramente sentir e saber
Que talvez não nos pertençamos. 

Meu querido amor,
Por que foi que despertastes?
Por que ainda me abraças?
Qual valor guardas por mim
Se nossas folhas se espalharão
À brisa do primeiro outono?

Comentários

  1. Belíssima poesia, cala fundo! Será que um dia verei o Sadraque falar isso para uma musa que não seja a liberdade?

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  2. Hehe, gosto demais dessa também! E respondendo a sua pergunta, eu sinceramente espero que sim :P

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