Elegia aos Meus Romances não Vividos

Elegia aos Meus Romances não Vividos

Amor, mar que dias mil eu naveguei
em ríspidos, rápidos e líquidos delírios:
se outrora eras tão belo e insinuante
por que agora tocas-me com o lábio
que fere e despudora minha carne,
causando-me esta dor tão angustiante?
Se em meio a teus caminhos quase inertes
divergiu a minha busca, e aí mesmo,
minha brusca boca enlouqueceu-se
com as repetidas palavras de carinho,
atiradas sem pudor e sem remorso,
e sem que a alma vislumbrasse viva cor,
por que não mais que de repente
te despedes de minha ingênua poesia?
Por que a tua essência me é estranha,
e não entranhas quem em verdade sou,
e alegre tu não sentes o que sinto,
e triste tu não pensas o que penso,
e comigo não te consubstancias?
Será que confiando a ti os meus desejos,
sonhei eu de um modo tão disléxico,
e tão sereno, e improvisado e imbecil,
que não tornei-me sequer merecedor
de um dia mais a velejar teu corpo vil?
Desmonte verso a verso meus poemas
e desafie-me novamente a descrever
com as palavras mais azuis e amarelas
os tons de teus sorrisos descuidados
que tornaram meu ser tão desejoso
de algo que sequer já exisitiu.

Comentários

  1. Triste por lembrar Helena, um amor distante que se foi no tempo, qual lençol da memória arrancado do varal por uma tempestade metafísica.

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