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Mostrando postagens de 2018

Elegia ao Inevitável

Elegia ao Inevitável Calado eu sofro os meus dissabores e choro escondido nas noites de inverno, temo ao dormir, que quando acordar ao meu lado não estejas: temo que estejas mas já não me ames mais. A cada instante chamado de meu a ti eu entrego tudo o que tenho: do meu espírito e essência impetuosamente abro mão. Sei, contudo, inevitável é que me abandones quando a juventude de outrora decidir me deixar. Mas minha gratidão é tamanha que a ti me entrego à revelia por mais que o tempo cisme dizer que não. Por mais que, sem pudor, em um dia vadio qualquer, e ao meu lado já não mais estiveres, em apenas um instante dilaceres o meu coração.

Capim-verde

Capim-verde Ah capim-verde! Capim-verde! Que o beijo do sol amarela, quando eu olho pela janela e vejo o céu embriagado do azul celeste mais desvelado que se encontra nos dias de Abril. Capim-verde, me respondas, reluzente, quando em ti sopra o vento Sudoeste e nos campos se retorcem calmas ondas: por que tão cruelmente tu quiseste que a mim mesmo eu contemplasse, como se o próprio tempo parasse, e com tão voraz ritmo meu peito doesse que a vida se tornasse tão indiferente?

Vinte e Nove de Outubro de Dois Mil e Dezoito

Vinte e Nove de Outubro de Dois Mil e Dezoito acordei as cores já não tinham contraste os sons já não eram audíveis os sabores já não eram sentidos os amores já não eram falados os abraços já não eram apertados e os beijos foram proibidos a realidade era inexorável mas ninguém soltava a mão de ninguém e a coragem era interminável.

Brisa da meia-noite

Brisa da meia-noite Minha alma é sucessão de afetos pulsantes, delirantes e seletos, que fazem do meu caminho coleção de anseios vívidos, vorazes e sem freio.

Conversa de Vidas Batidas 2

Conversa de Vidas Batidas 2 À minha vida conto segredos que me afligem e derramo medos que tomam conta do meu ser - ao que ela diz: "Teus pensamentos não condizem com o amor ou o bem que sustentam teu querer." Nos meus dias mais sombrios e angustiantes, quando estou mais frágil, e a cada passo vacilante, à minha vida digo: "Desisto, não sou capaz - não tenho mais razões para seguir adiante!" Mas minha vida, em seus tons mais radiantes, infunde-me verdades que devo sempre recordar: "Olhe à tua volta, e o sofrimento que não é teu: e todo o bem que viveste, dele já se esqueceu? Se te dou por dons - ser amado e amar - seja confiante que de meus dons, apenas, podes te sustentar!"

Auto-reconstrução

Auto-reconstrução À hora de dormir havia alguma coisa como faca entre as gengivas e um fio de sangue a escorrer E havia algo como desejo - embora mais parecesse coceira - ou sede que não se aplacava e sentia falta de ar, falta de ser E tudo então era estado perplexo desse emaranhado disléxico que é o ser a virar sonhador E tudo era um tanto complexo que as palavras surgiam do léxico de quem à vida se dá com torpor Mas o tempo entre as mãos já não era bastante e o futuro era insuficente porque o desdém engolia o agora E o despertar já se fazia tarde porque o dia já era chuvoso, o céu já era nublado e o verão já se fora embora E foi quando viver já não era sem tempo e o amar não mais era escolha mas se tornara obrigação Porque os dias se vão sem alarde mas o agora nunca é tarde para a auto-reconstrução

Enxurrada

Enxurrada Enquanto observo a chuva Que como as luzes escorre Pelo vazio chão da cidade Sucedem-se as horas afoitas No entorno do meu caminhar E já mais adiante na curva Resoluta, a enxurrada percorre Sem que exista ambiguidade Sobre o porquê das escolhas Que agora a faz escoar Meus trilhos vão sem surpresa Porquanto em mim jaz o tempo Que é filho de tudo que fiz E é como a chuva a erodir Os rastros deixados para trás Meu peito carrega a certeza E meu espírito o alento De saber que tudo que quis É força que me fez construir Tudo que eu sou capaz!

Eu me questiono sobre a existência

Eu me questiono sobre a existência Eu me questiono sobre a existência, enquanto reflito cada porquê: a mente despe-se da experiência e dos trilhos tecidos pelo meu ser. Mutuamente sou vasto e vago - repleto sou de reflexões - mas por que tanto eu me indago sobre cada uma de minhas questões? "Como devo compor meu substrato para que eu viva com liberdade? O que deve ser do meu caminho para que eu alcance a felicidade?" Se não cessa o espírito, eu adivinho: a vida resume-se ao próximo ato."