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Amigos, redes e tardes

Amigos, redes e tardes Tarde azulada de amigos nas redes, canto de pássaros, águas que caem. A vida é mais bela numa tarde de sol quando há uma rede onde se deitar. Mas já houve tardes de perene barulho e vidas inteiras de pura dubitação - árduos momentos, e, entretanto, necessários para que desistir nunca fosse escolha. A um só fator não se deve a sorte em que hoje, contentes,nos lançamos, nem tampouco, sem incólume esforço, nas tardes de agora nos deitamos. Urgentes palpitam e nos recordam, nossos peitos, as trilhas e labirintos que nos trouxeram até aqui - que neles nunca habite, por um instante sequer, a ganância, o mal ou o ressentimento. Porque se pedíssemos a Deus uma vida melhor incapaz Ele seria de tamanho feito: já agora, em nossas almas, carregamos a ventura, o bem e um crescente contentamento.

Nós somos um verbo que insistentes conjugamos

Nós somos um verbo que insistentes conjugamos Nós somos um verbo que insistentes conjugamos em olhares austeros e beijos abnegados, angustiados, mas esperançosos por um futuro mais tolerável. É preciso ser, porque sendo amenizamos as dores que nos assolam e abafamos os sons ensudercedores que ecoam das palavras de ordem. É premente lutar, porque lutando temos força para que não nos rasguem a carne ou nos calem o grito - e porque já sabemos o que é que nos cabe se ousarmos desanimar. É urgente viver, porque vivendo nem o fantasma do ódio ou a ameaça do medo suplantam nosso amor, nem o peso do tempo é tão grande que extingua a nossa paz.

Capim-verde II

Capim-verde II Capim-verde, capim-verde pelos campos a esvoaçar! Quando os ventos são firmes, ou os dias imóveis, não causam-lhe angústia as folhas que caem, ou consome-lhe o tempo insistente  a passar? Capim-verde, capim-verde pela cidade a refastelar! Quantas brisas não te afagam, quão sereno eu não fico ao te ver balançar? E ao final, a sentir teu encanto, eu choro, mas alentas meu pranto e dissipas a dor do meu peito: que para todo mal, há um jeito, e para todo amor um lugar. Mas na vida, há que ser valente, no passado, futuro ou presente, porque para viver é preciso lutar!

Temporal

Temporal Aos raios de sol, brilhantes, não me relato, nem pelos dias, angustiantes, me deixo amedrontar. Nem mesmo os trovões me apavoram, ou são capazes as nuvens negras de me desanimar. Porque sigo assim, da vida levo, o fardo corriqueiro  de aprender e caminhar. Somente o tempo me dá medo quando corre: será que ainda descubro meu lugar?

Elegia ao Inevitável

Elegia ao Inevitável Calado eu sofro os meus dissabores e choro escondido nas noites de inverno, temo ao dormir, que quando acordar ao meu lado não estejas: temo que estejas mas já não me ames mais. A cada instante chamado de meu a ti eu entrego tudo o que tenho: do meu espírito e essência impetuosamente abro mão. Sei, contudo, inevitável é que me abandones quando a juventude de outrora decidir me deixar. Mas minha gratidão é tamanha que a ti me entrego à revelia por mais que o tempo cisme dizer que não. Por mais que, sem pudor, em um dia vadio qualquer, e ao meu lado já não mais estiveres, em apenas um instante dilaceres o meu coração.

Capim-verde

Capim-verde Ah capim-verde! Capim-verde! Que o beijo do sol amarela, quando eu olho pela janela e vejo o céu embriagado do azul celeste mais desvelado que se encontra nos dias de Abril. Capim-verde, me respondas, reluzente, quando em ti sopra o vento Sudoeste e nos campos se retorcem calmas ondas: por que tão cruelmente tu quiseste que a mim mesmo eu contemplasse, como se o próprio tempo parasse, e com tão voraz ritmo meu peito doesse que a vida se tornasse tão indiferente?

Vinte e Nove de Outubro de Dois Mil e Dezoito

Vinte e Nove de Outubro de Dois Mil e Dezoito acordei as cores já não tinham contraste os sons já não eram audíveis os sabores já não eram sentidos os amores já não eram falados os abraços já não eram apertados e os beijos foram proibidos a realidade era inexorável mas ninguém soltava a mão de ninguém e a coragem era interminável.